Nós, mulheres, sustentamos a vida, a economia e somos essenciais nas tomadas de rumo do país e do mundo. Somos nós que começamos as revoluções, que debatemos educação, mas também somos nós que vivenciamos uma sobrecarga por um trabalho invisível e excessivo, que faz com que nossas vidas sejam ocupadas pelas necessidades externas, sem a possibilidade de ser considerado o que queremos e precisamos para viver. Por isso, é hora de debatermos, com urgência, a formulação de políticas efetivas na divisão do trabalho do cuidado.
No último ano, começou a ser massivamente discutido no Brasil o tema da divisão do trabalho do cuidado após a temática ser discutida na redação do ENEM. Esse debate ocupou as redes sociais, também as escolas e alcançou, principalmente, um publico essencial para que consigamos aprofundar ainda mais a pauta das mulheres na sociedade. É importante partimos do entendimento que essa discussão não começou agora. Nós, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), construímos, desde a década de 90, um debate sério acerca da necessidade de retirarmos a sobrecarga do trabalho do cuidado das mulheres e dividirmos com o estado e com os homens.
Afinal, diferente do que está no imaginário social, não amamos realizar o trabalho do cuidado como uma imposição, mas fomos e somos, na verdade, condicionadas a isso, sempre e diariamente. Quando apresentamos a necessidade de termos um movimento feminista popular e antissistêmico, o último termo pode ser questionado ou passa despercebido nos espaços, apenas como uma palavra que torna nosso discurso mais bonito, mas na realidade não é. A luta antissistêmica da MMM surge pelo entendimento de que não conseguimos construir um processo de mudança nas vidas das mulheres se não buscarmos as raízes das opressões: o sistema capitalista, que, historicamente, nos violenta e nos explora.
Essa construção começa quando o trabalho de cuidar da limpeza de uma casa, de fazer a comida, de lavar as roupas, de cuidar dos irmãos, dos filhos e dos pais é apresentado como uma responsabilidade exclusiva das mulheres e, muitas vezes, como um processo natural, enquanto os homens, que também precisam de roupa limpa, casa limpa e comida, estão colocados na posição de receptores e qualquer ato ou movimento que tente desmantelar essa lógica, está veementemente errado. É por isso que falamos sobre a sobrecarga fatal em que nós, mulheres, vivemos.
Dito isso, compreendemos a necessidade de reivindicar e construir, de maneira auto-organizada, uma Política Nacional de Divisão do Trabalho do Cuidado, que contemple e responsabilize os homens e o Estado, com a construção de lavanderias coletivas, mais restaurantes populares e creches em tempo integral (nas Universidades e também fora delas). É um processo profundo que requer uma tomada de consciência ampla, socialmente e que envolva grande parte das pessoas no debate e na luta como um todo.
Nessa perspectiva, construímos a agenda de luta feminista para o 8 de março, nacionalmente, focada em ampliar o debate sobre a divisão do trabalho do cuidado em todos os espaços, que elaboramos e ocuparemos, durante todo o mês de março. A nossa luta por mudar o mundo e mudar a vida das mulheres, não começa agora, mas este é um período histórico, que possibilita, através de um governo democrático, o alcance das nossas conquistas. Nós seguiremos em marcha até que todas estejamos livres!
*Por Plúvia Oliveira (Gestora Ambiental e militante da Marcha Mundial das Mulheres) r Estefane Maria (Diretora de Mulheres da UNE e militante da Marcha Mundial das Mulheres)